
Recentemente, uma matéria publicada em um blog, com a manchete “A culpa do caos no trânsito de Juazeiro não é de Mitonho Vargas, e sim de quem o nomeou”, reacendeu um velho hábito local: apequenar um problema sério e coletivo, transformando-o em um debate meramente pessoal.
Ao reduzir a discussão à busca por um culpado, a publicação esvazia a possibilidade de um debate responsável sobre a mobilidade urbana em Juazeiro, um desafio que se arrasta há décadas e que exige planejamento, técnica e compromisso público, não um mero jogo de mediocridades ou de conveniências políticas.
Falar sobre o trânsito de Juazeiro não pode ser um exercício rasteiro e com mira em uma única pessoa ou órgão de trânsito. É preciso conhecer a raíz histórica do problema e revisitar as origens da cidade, sua geografia e a falta de um Plano Diretor efetivo, negligenciado por anos e que resultou na expansão urbana desordenada que conhecemos hoje. Esse é um dos grandes desafios do prefeito Andrei, que busca projetar uma Juazeiro mais moderna e dinâmica, corrigindo anos de descuido na mobilidade e em outros setores, a exemplo da macrodrenagem e urbanização de riachos e canais.
Desde sua fundação, Juazeiro convive com ruas estreitas, vielas e uma formação geográfica complexa, entrecortada por riachos e canais. Ao longo do tempo, gestores buscaram soluções paliativas, como a construção da “Banca” (viaduto), para nivelar a cidade à Ponte Presidente Dutra e possibilitar a instalação de trilhos ferroviários que conectaram Juazeiro e Petrolina a outras regiões do Nordeste.
A construção da Banca em meados de 1950, foi importante, mas hoje representa um obstáculo à fluidez urbana. O elevado de terra e asfalto, que começa no bairro Alto do Cruzeiro (BR-407) e segue até a Ponte Presidente Dutra, divide a cidade e cria gargalos de trânsito. Em toda a sua extensão, há apenas cinco pontilhões estreitos que interligam bairros, formando um sistema viário frágil, congestionável e perigoso em tempos de chuva, quando o acúmulo de água torna o trânsito arriscado.
O jornalismo comprometido com a verdade e com o interesse público deve observar o contexto histórico de uma situação, antes de levantar uma crítica, propor soluções e envolver todos os atores sociais sobre o problema em questão. No caso de Juazeiro, o debate precisa incluir não apenas a AMTT, mas também o DNIT, a PRF e a AMPLA (em Petrolina), já que o trânsito entre as duas cidades é interdependente.
Todos sabem que qualquer ocorrência na Ponte Presidente Dutra, um acidente ou protesto, por exemplo, impacta diretamente Juazeiro e Petrolina, afetando milhares de trabalhadores, estudantes e comerciantes que cruzam diariamente a ponte. É, portanto, um problema de um conjunto de fatores e não apenas de um órgão municipal.
Assim como, eventos de grande porte realizados na Orla II e nas avenidas centrais, como o Carnaval, os desfiles de 7 de Setembro e o Copa Vela Fest, em 2022, comemorando os 144 anos da cidade, evidenciam a falta de estrutura urbana. Naquele ano, a cidade chegou a ficar completamente travada, com quilômetros de engarrafamento, que chegou até o Bairro Castelo Branco.
Na atual gestão, felizmente, a situação tem sido diferente. Mesmo com as obras da Travessia Urbana e os megas eventos, não se têm registado grandes colapsos de trânsito, exceto em situações imprevistas, como acidentes nas avenidas Raul Alves, Santos Dumont ou na própria ponte.
Nas últimas semanas, Juazeiro sediou o Congresso Brasileiro de Agroecologia e o Juá Literária, que vai até o dia 25 deste mês. São dois grandes eventos que movimentam mais de 15 mil pessoas por dia, lotando hotéis, bares e restaurantes. Isso mostra a força da cidade, mas também reforça a urgência de melhorar sua infraestrutura.
As obras da Travessia Urbana, iniciadas em 2023, buscam justamente isso: corrigir problemas históricos de mobilidade. O projeto prevê sete viadutos, duplicação da BR-407 (entre o Mercado do Produtor e a Ponte Presidente Dutra), alargamento da BR-235, rotatórias no lugar dos pontilhões e a retirada da Banca.
Quando essa etapa for concluída, os avanços serão visíveis. No entanto, até lá, é necessário paciência e compromisso coletivo, tanto do poder público, da imprensa, como também da população. Cabe aos veículos de comunicação comprometidos com Juazeiro e com o interesse público atuar de forma propositiva e responsável, contribuindo para o debate qualificado e para a construção de soluções reais, com o objetivo de ajudar Juazeiro a avançar
O desafio do trânsito e da mobilidade urbana de Juazeiro não se resolverá da noite para o dia e nem com açodadas matérias seletivas e manchetes convenientes, mas com planejamento técnico, visão republicana e responsabilidade pública. Juazeiro, merece!
Da Redação: TNR
Foto: Reprodução









1 Comentário
Muito bom texto, completo, verdadeiro. Mitonho Vargas e sua pequena equipe (não há concurso para a área a muito tempo), tem feito milagres. Equipe dedicada e comprometida. O que falta em muitas pessoas no trânsito, compromisso e responsabilidade com a população.